quarta-feira, 17 de março de 2010

CRÔNICA FANTÁSTICA DA II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA

Comecei a II Conferência Nacional de Cultura rindo.Claro, porque assim que cheguei para a inscrição, fui ao banheiro, urinei e, ao tentar pegar papel na pia para enxugar o pingolim, entrou um rapaz da conservação, que saiu correndo imediatamente.Um minuto e meio depois, quando ainda estava enxugando o dito cujo, entra o rapaz da conservadora junto com um segurança armado perguntando porque eu estava urinando na pia.Eu ri e eles fecharam ainda mais a cara. Falei que a acusação não fazia sentido pois a pia estava limpa e cheirosa,embora eu fosse delegado eleito para a conferência, escritor e professor universitário,fazendo o favor de não contar os dois últimos detalhes para ninguém.
O segurança riu, mas não acreditou. O rapaz da conservação, além de não rir, ficou mais puto ainda pois, embora um trabalhador, poderia parecer idiota e precipitado.Queria que o segurança me colocasse para fora do prédio custasse o que custasse e, ainda, se possível, evitasse a participação de um tal ser, pois não estava a altura de participar de uma conferência de cultura. Saíram ambos para resolver meu destino lá fora, antes da minha saída.
Quando saí, já eram cinco: o rapaz da conservação e mais quatro seguranças. Perguntei: já decidiram? O primeiro segurança riu, mandou-me embora e disse que minha cara era de bandido e minha roupa de pobre.Falei que ele me ofendeu três vezes, acusando-me , sem provas, de ter urinado na pia, de ter cara de bandido e de vestir roupa de pobre. Pra ser justo, falei, evidentemente que vou te ofender três vezes e mandei-o à merda, tomar na rabeta e ler meu último livro de contos.
Mas essa parte boa foi só no início,pois terminei o último dia da II Conferência Nacional de Cultura aos prantos. Após a leitura das 32 propostas aprovadas, senti como se fossem 20 anos de luta em um dia e meu sistema eletrolítico liberou geral.
Foi uma senha: O Walmir, do Pará, e o Goto e a Rosa, casal Paranaense-Pernambucano, foram os primeiros a me consolar. "Sou chorão mesmo", Disse. "Nós também", eles responderam, "mas se acalme", disseram-me. Depois foi a vez dos amazonenses Cacá Bonates e Augusto Domingos, que também se preocuparam.
Em seguida, como numa bela jogada do destino,apareceram na minha frente Mamberti, Peixe, Joãozinho Ribeiro,Bernardo, Silvana( que conheci nesse instante) e, um pouco atrás, meu companheiro delegado do Amazonas, Marcos do Boi. Senti que todos haviam chorado, mas para eles já havia chegado a hora do riso. Eu não podia parar de chorar porque depois do choro da alegria emendou o choro da saudade, aniversário de nascimento de minha mãe, morta há um ano e meio- e também por uma notícia de última hora que, apenas por susto, compartilhei com meu companheiro cineasta Sílvio da Rin, com quem conversava na plenária, esperando o resultado com as 32 propostas vencedora.Todos me confortaram,exceto a Silvana, por não me conhecer.
No estacionamento da FUNARTE, sozinho, separado de todos, deixei a convulsão continuar.Quem sou eu para mandar no meu corpo ? Quem sou eu para mandar nas minhas emoções?
De repente, mostrando quem é, aparece Sílvio da Rin, o único que sabia o motivo do meu choro insistente, além da alegria de ter feito história na já eterna II CNC.Este companheiro, tenho certeza, largou a festa apenas para me consolar. Já nos conhecíamos do PT, de encontros culturais e de termos partilhado participação no eixo 4, sobre economia da cultura.
Sílvio me orientou como alguém que já viveu o mesmo problema. Disse que, dali para frente, nossa amizade seria duradoura.Dei-lhe um beijo e me despedi. Pediu-me para nos comunicarmos por e-mail.Ainda falei que , na próxima vez que fosse filmar na Amazônia, teria que ser entre 6 e 10 da manhã ou entre 16 e 18 da tarde. Não há filtro solar que resista em outro horário. A luz da linha do Equador é intensa e úmida. Este ser encantado, com todas suas qualidades humanas, fará parte da minha memória afetiva. Não tem outro jeito.
Quando voltei para o Inferno Verde, comecei a rir de novo.Os jornais ignoraram os delegados do Amazonas e ainda mandaram xaveco. Notícias de evento e de entretenimento. Venda de produto. De cultura nada. Só rindo.

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