sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO E O REALISMO ÉPICO-MITOLÓGICO

Quando Jorge Amado morreu, os comentários sobre o episódio centraram-se na sua vida e na cronologia da sua obra. Esquadrinharam sua vida, especialmente sua condição de baiano. A cronologia da obra reiteirou a abordagem descritiva, primando pela aparência e pela superfície. Amado escreveu sobre a Bahia, sobre o acarajé, sobre o candomblé e sobre o cheiro do xibiu das negras baianas.Estes eram os comentários do senso comum.
Nada lhe escapou, afirmavam os comentaristas, com lágrimas nos olhos. Diziam isto tentando esconder o conteúdo da crítica de Amado ao latifúndio do cacau, ao catolicismo, ao capitalismo e a censura. Enconderam até sua condiçao de comunista e os livros que ficcionaram a luta revolucionária no Brasil!
Mas pior que esconder seus temas e sua visão de mundo proletária sobre os temas, foi descuidar de sua literatura propriamente dita. Pior foi não tratar da estrutura formal da sua obra, mostrar incompetência ou maldade para tratar do seu estilo.Nada foi dito sobre sua evolução estilística. Nenhum comentário sobre sua passagem pelo realismo proletário, pelo realismo crítico, pelo realismo socialista e pelo realismo dos folclores regionais da sua última fase, inaugurada com Gabriela, Cravo e Canela.
Com José Saramago está acontecendo a mesma coisa. Apenas uma cronologia da vida e dos títulos da obra. Sobre sua trajetória estilística, nada.
Como escritor proletário, sinto na carne a contradição de escrever contra as estruturas do cotidiano capitalista e, ao mesmo tempo, ter que vender o livro para editoras que pertencem a este sistema.Pior: ter que vender o livro para um mercado predador, que derruba as florestas restantes para retirar a celulose para a fabricação do papel.Talvez o Ebook supere esta etapa.
Sei o que Saramago passou, a ponto de ter que exilar-se de seu país, em pleno regime democrático. Isto porque escreveu sua versão sobre Jesus Cristo.Imagina se escreve sobre pedofilia na Igreja Católica.
O fundametal , porém, é a sua fusão realista do épico com o mitológico. Do cão de sete cabeças que late quando certo graveto é riscado no chão, prenunciando um novo ciclo de tragédias e de sua superação épica. A mesma épica do Cerco de Lisboa e da expulsão dos mouros. Isto é o que deveria ser nostrado. Sem censura e sem preconceito.
No Amazonas , tem um jornal - A Crítica- que não podendo mandar-me fisicamente para o inferno, já mandou meu teatro do indígena na cidade e no presente. Já mandou minha literatura revolucionária, proletária, para junto do demônio, apenas porque foi premiada e fez sucesso. Apenas porque faço o leitor rir da globalização e da padronização cultural, que tenta destruir a cultura indígena e indígena-cabocla da cidade.
Este jornal, através da editora do caderno de entretenimento e de um retardado bibelô que a acompanha, já fez campanha de linchamento moral, pela minha condição de realista cômico-fantástico. Gostam da literatura, mas detestam escritor que foge aos seus limitados padrões de auto-ajuda.
Embora seja um caso local, é universal na tentativa de afastar um escritor do seu público e, portanto, de prejudicá-lo profissionalmente.De matá-o de fome e de mandá-lo para o inferno.
Boa morte , querido camarada!

Um comentário:

  1. Assim como Saramago, tantos outros com menos brilho, mas também talentosos são esquecidos.
    Fazer literatura, escrever já não é fácil, imagine então no meio da Floresta. Em Maués de 22 a 24/06 teremos o FLIFLORESTA. Um pequeno passo na longa caminhada que temos pela frente.

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