terça-feira, 22 de junho de 2010

SARAMAGO E O ERRO DO COMPANHEIRO ROBERTO GONÇALVES LIMA: SEM PERDER A TERNURA!

José Saramago morreu e sua obra romanesca foi tratada como sociologia. E sociologia positivista. Os fatores externos sobrepondo-se a sua estrutura interna. História predominando sobre ficção.História predominando sobre estória.
Em toda a mídia nacional , este foi o eixo: fixar os comentários na superfície do conteúdo, na aparência do tema e da visão de mundo do autor. O narrador foi esquecido. A relação entre estrutura social e estrutura formal, algo necessário para transitar da sociologia para a literatura, foi intencionalmente evitada. Eu compreendo, mas a genialidade da escrita exije a genialidade da leitura. Desculpa , mas é assim. Senão não é literatura. É ciência social. Em Cuba, onde estudei e ensinei literatura, a análise começa pela forma. A forma é que é social, como dizia Lukacs. E não o conteúdo, como pregou Mao Tsé Tung.
Apenas eu, em toda mídia nacional, foquei na questão estética, isto é, artística, da obra de José Saramago. Teve gente que falou que sua obra era universal porque era portuguesa. Outro, que Saramago escreveu contra as injustiças socias. Outro ainda, que Saramago criou uma grande metáfora na Jangada de Pedra, porque separou o condado portucalense da península ibérica e do mundo. Teve ainda comentaristas que trataram da filosofia marxista do autor. O babaca do papa chegou a dizer que Saramago era um ateu( Deus me livre!) , só não o mandando para a fogueira da inquisição porque o próprio autor poupou-o deste trabalho , pedindo para ser cremado após a morte.
O que ninguém tratou foi do realismo como estética e estilo literário na sua obra. Minto: dos realismos, seja o realismo crítico do Cerco de Lisboa, seja o realismo épico-mitológico da Jangada de Pedra. Na Jangada de Pedra, aliás, a narração começa com alguém riscando o chão com um graveto e fazendo o cão cébere ladrar para anunciar uma tragédia na península. Mito, trágédia realista e solução épica posterior para solucionar a tragédia. O Cerco de Lisboa é realismo crítico, sem apelo ao mito, sem alegoria.
Pedi para a Morgana e a Rosely, da secretaria de cultura, e ainda para a secretaria de comunicação do PT publicarem na página principal a visão estético- literária, a que importa, sobre a obra de Saramago. Mostrei também que parte da mídia burguesa do Amazonas faz comigo, na literatura, o mesmo que a mídia burguesa nacional faz com o Lula e a Dilma, no processo eleitoral. Mentem, escondem, agridem, ás vezes gratuitamente, por ímpeto carniceiro.
Mas parece que também meus companheiros da CNB, tendência hegemônica, tem uma birra com este escritor revolucionário. Não quero entender, mas não vou ser refém de censura e de desrespeito com minha obra teatral e literária, com meu currículo, inclusive de vida, de luta. Não é fácil para um escritor assumir o PT e ser vítima de censura interna.
Pois no meu lugar escalaram meu companheiro Roberto Gonçalves Lima para escrever sobre Saramago e não publicaram meu texto. Meu querido companheiro Roberto, talvez sem saber, e com tremenda boa vontade, incorreu no mesmo erro positivista, cientificista, da grande mídia nacional. Beirou a superfície da obra de Saramago pelo conteúdo e , de leve, tratou da manjada e batida metáfora da Jangada, repetindo o óbvio e o já dito.
O secretaria de cultura do meu PT do coração se recusou a publicar uma leitura original da obra de Saramago, feita por um escritor, dramaturgo e acadêmico petista independente, para se prender a uma rebarbativa versão emprestada.
Espero que esta censura não se repita, pois não é a primeira. O PT também não entende de literatura proletária. Mas um dia entenderá. Para isto estou aqui. Sem perder a ternura.

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