quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA E EU

Em 2006/2007, esteve em Manaus o lendário diretor teatral Zé Celso Martinez Corrêa.Zé veio ministrar um curso e participar do Festival de Teatro da Amazônia.Eu, como Dramaturgo, e o Luiz Vitalli, diretor do grupo Pombal, tivemos a honra de tê-lo na platéia,assistindo o teatro do indígena na cidade e no presente, nossa mistura original de ritual indígena com o teatro grego.
Esta peça tinha um lastro. Pertence a história do teatro brasileiro pois foi a primeira experiência cênica do teatro indígena na cidade e no presente. O resto é filhote de pe. José de Anchieta: teatro do indígena na floresta e no passado, encenado pela forma do teatro grego, sem ritual. Era uma conteúdo estranho a forma que durou quatro séculos.
Poronominari havia ganho(sem receber) o prêmio nacional FUNARTE centenário Teatro Amazonas, em 1996. Prêmio FUNARTE de montagem,em 2004, e prêmio FUNARTE de circulação, em 2005. A expectativa do Zé era grande.
Pela manhã nos conhecemos, após um acidente que me roubou seis dentes. Ainda estava com o rosto inchado e o Zé se comoveu.Saímos do Teatro Amazonas, onde nos conhecemos, e fomos para o Centro Cultural dos Povos da Amazônia, conhecer a cultura dos 8 países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônico e a arena de espetáculos.
Ao chegar na Arena do CCPA, Zé achou interessante, mas disse que aquilo não era espaço para teatro, apenas para folclore e grandes shows. Falei que ele estava enganado e que a proximidade da arquibancada em relação a arena possibilitava um teatro sem máscara, sem expressão fixa, diferente de outras arenas pelo país.
Zé comprovou isto, me agradeceu e me convidou para realizarmos um grande espetáculo panamazônico, com artistas dos 8 países. Falei que o meu prestígio era estético e literário, e que, portanto, isto não significava que tivesso acesso a verbas de tamanho aporte.Falei que, um espetáculo deste, altamente possível, dependeria de um prestígio político, que ele possuía. Disponibilizei-me para ajudar e, quem sabe, criar o texto.
Durante a noite, Zé assitiu a pior apresentação de Poronominari.Eu e Luiz já estávamos encenando Saga Munduruku, com o elenco antigo, e escrevemos Poronominari com um elenco de jovens, com duas semanas de ensaio, apenas para participar e prestigiar o festival. Zé entendeu, embora tenha elogiado a concepção artística do espetáculo e criticado sua realização prática. Ficamos amigos e combinados assim: um dia realizaríamos o espetáculo panamazônico, na arena do Centro Cultural dos Povos da Amazônia.
Esta semana, na imprensa do Amazonas, surpreendi-me com um debate entre a produtora do Zé Celso e o secretário de cultura do Amazonas, Robério Braga.A moça, que produz espetáculos para o grupo do Zé, tentava vender um espetáculo de 3 horas, exatamente na arena do Centro Cultural dos Povos da Amazônia.Disse que seria um espetáculo para marcar uma ruptura no teatro brasileiro, ao mesmo tempo em que seria um retorno às origens do teatro grego.Segundo ela, o que o grupo queria era pouco: infraestrutura. O resto era com o grupo.
Tudo muito bem, tudo muito justo, ainda mais se tratando do que, para mim, é um icone não apenas estético, mas ético: Zé Celso Martinez Corrêa.
Sucede que a moça afirmou, textualmente, que ela havia adorado a arena e recomendado para o Zé, que já a conhecia superficialmente.O secretário ficou de avaliar o projeto e o debate continuou pela imprensa.
O debate chegou à Federação de Teatro do Amazonas e muitos chegaram a questionat a linguagem cênica de Zé Celso. Alguns consideraram o uso do nu extremamente artístico, outros, excessivo. Uns criticaram sua linguagem de ritual báquico, com embriaguês e nudez. Outros acharam que era isto mesmo e que esta linguagem se aproxima do Dabucuri, ritual da cultura arawak, do Rio Negro, com a mesmas características.
De minha parte, a idéia de ritual e teatro compondo uma nova forma de arte cênica já é uma realidade nos espetáculos que monto junto com o Luiz Vitalli e o grupo Pombal. O Zé criou está linguagem baseda nos rituais profanos gregos. Nós criamos baseados (opa!) nos rituais indígenas. Mas a idéia de ritual foi inspirada em Zé Celso Martinez Corrêa.
O que eu não entendo é a moça da produtora vendendo idéia que não é dela. Deveria limitar-se à produção, recolher grana e aplicá-la na logística do espetáculo. Deveria abdicar do debate estético e ser menos "sulista", isto é, colonialista interna.
Zé, mano querido, a Amazônia lhe respeita e muito. Mas estas produtoras possuem uma linguagem comercial e colonialista muito cheia de pedantismo e burrice!
Te espero, manda notícias e lembre a moça do nosso debate sobre a arena do Centro Cultural dos Povos da Amazônia.
Vai, doido!

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