terça-feira, 22 de março de 2011

ACADEMIA DEBATE PANAMAZÔNIA: 30 ANOS DE OTCA NÃO ESTÁ NA PAUTA E FÓRUM SOCIAL PANAMAZÔNICO NÃO FOI CONVIDADO!

PRÓLOGO
José Ribamar Mitoso

O curso de antropologia da Universidade Federal do Amazonas ainda é muito recente.Não possui os 100 anos da Faculdade de Direito, a mais antiga do Brasil.Nem quadros nativos forjados na fórmula vivência e reflexão.
Recentemente, este Departamento combinou sua pouca idade com uma composição docente de brasileiros de outras regiões do país, notadamente da região sul. Estas duas variáveis, para usar a terminologia acadêmica, tem afastado o Departamento de Antropologia tanto de uma tradição secular de acúmulo de conhecimentos, como de um nativismo por vezes bastante útil para evitar o colonialismo interno da Amazônia.
O resultado é a aplicação impune de fórmulas teóricas criadas longe do objeto e, evidentemente, as distorções , teóricas e práticas, que inevitavelmente isto implica.
A recente expressão destas distorções é o seminário Pan-Amazônia: Fronteiras e Povos. Fechado em si mesmo e tentanto reduzir a Panamazônia a uma leitura monodisciplinar, o Departamento de Antropologia retoma a idéia da Loja de Departamentos e tenta fechar em um sistema estrutural e etnográfico uma Pan- Região complexa, multifacetada e, por isso mesmo, multidisciplinar.
Para não espichar a conversa, e sabendo que , pelo menos, meus colegas docentes possuem elegância para o debate, estranho a ausência na pauta de temas como OS 30 ANOS DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA E A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO FÓRUM SOCIAL PAN-AMAZÔNICO.
Como a UFAM foi a única instituição universitária dos 8 países da OTCA a cuidar do assunto e como coordenei o projeto de avaliação de 500 acordos no âmbito dos 30 anos do tratado, estranhei bastante a ausência de debate sobre o tema. Do mesmo modo, como organizador de dois Fóruns Sociais da Pan-Amazônia, especialmente a parte cultural, também estranhei a ausência do tema no seminário acadêmico.
Contudo, nada disto seria estranho se o título do seminário não enunciasse uma idéia de exclusividade e monopólio da verdade sobre a Pan- Região.É uma boa iniciativa. Há verdade nisso. Mas é preciso humildade destes pesquisadores que vieram do sul do país. A Amazônia não é para principiantes. Para estes, ela só mostra a superfície. Para entrar na sua essência, na sua entranha, o caminho é outro.
Sejam bem-vindos!



Panamazônia: fronteiras e povos

Até esta quarta-feira, 23, especialistas e estudantes de instituições brasileiras e internacionais discutem problemáticas da Panamazônia durante o II Seminário Sobre Povos Tradicionais, Fronteiras e Geopolítica na America Latina.
A solenidade de abertura ocorreu no auditório Rio Solimões (ICHL), sendo presidida pela coordenadora geral do evento, professora Márcia Calderipe (Antropologia). Também fizeram parte da mesa o vice-reitor, professor Hedinaldo Narciso, a pró-reitora de pesquisa e pós-graduação, professora Selma Baçal, o diretor do ICHL, professor Nelson Noronha, o professor do Departamento de Antropologia, professor Frantomé Pacheco, um representante da Federação de Umbanda e Cultos Afrobrasileiros, o coordenador da primeira edição do Seminário, professor Exequiel Basini, o representante da Universidade Nacional da Colômbia, professor Carlos Zareti, a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS), professora Thereza Cristina, e o senador pelo Amazonas, João Pedro (PT).
O evento foi idealizado pelo PPGAS em parceria com o Museu Amazônico. As Pró-reitorias de Extensão e Interiorização (Proexti) e de Pesquisa e Pós-graduação (Propesp), o Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam) também são parceiras do Seminário. Também há convidados da Colômbia, do Peru e do Equador. “É importante reunir instituições da Panamazônia, porque esse conhecimento será bom para todos nós”, disse o vice-reitor.
Ao abrir o evento, a professora Márcia Calderipe enfatizou a avaliação positiva da primeira edição do Seminário sobre Povos Indígenas, para o qual houve mais de 500 inscritos. “Foi uma surpresa positiva para a organização. A partir disso, foram realizadas publicações conjuntas, como coletâneas”, lembrou. A proposta era de que o II Seminário fosse realizado na Unidade Acadêmica de Benjamin Constant (INC/BC), que tem o curso de Antropologia. No entanto, fatores externos à organização forçaram a transferência para Manaus. Em se tratando da temática, a professora Thereza Cristina enfatizou o conjunto de ações desenvolvidas pelos organizadores, como os seminários sobre Migrações e sobre Conhecimentos Tradicionais. “Pretendemos gerar instrumentos, novas pesquisas, novos olhares sobre a Panamazônia”, disse.
A primeira mesa redonda, cujo tema foi ‘Povos, fronteiras e os Estados Nacionais: uma proposta para a Amazônia', foi mediada pelo professor Exequiel Basini. O primeiro a expor , professor Carlos Zareti (UNAL), contou a história do processo de formação das fronteiras entre países como Brasil, Colômbia e Peru, desde os tratados assinados durante o período imperial. “Podemos dizer que esses são espaços interetnicos de acumulação de conflitos”, resumiu. Segundo o pesquisador, esses conflitos foram caracterizados, no início, pelo recrutamento forçado de indígenas, e mais atualmente, pela existência de políticas públicas ainda incompatíveis entre países fronteiriços em relação aos povos que ali habitam.
O professor João Lino (Antropologia/Ufam) organizou uma apresentação voltada aos chamados povos isolados, a qual chamou ‘Estado pluriético: uma proposta a partir dos povos indígenas”. Ele lembrou a contradição conceitual do termo ‘fronteira’. “Em inglês há frontier, que designa espaço aberto para a penetração, e boundary, significativo de divisão ou demarcação. Em português, fronteira significa ‘o lugar de encontro e o diálogo entre culturas”, alertou. Falou também sobre conceitos de Estado Nacional e Povos, dentro da perspectiva do evento.
As atividades seguem até esta quarta-feira, 23. E quem participar de 75% delas terá direito a receber o certificado.

Anexos: Folder - Programação

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