sábado, 30 de abril de 2011

AMAZÔNIA: O MASSACRE E O LEGADO

Em 1988, aos 25 anos, e morando em São Paulo, marquei encontro com o poeta Jorge Tufic no então Centro de Estudos Cinematográficos Paulo Emílio Salles Gomes,dirigido pelo meu amigo judeu André Gatti. Tufic é um dos fundadores da Geração Madrugada (1953), que implantou os Modernismos Nativistas no Amazonas. Já sexagenário, o poeta, passando por São Paulo, desejou me ver ( pronome antes do verbo: fala Amazônica ), pois queria que eu fizesse o prefácio do livro Amazônia: O Massacre e o Legado.
Aos 25 anos, eu já escrevia em jornais do Amazonas e fazia pós-graduação em Estética e Filosofia da Arte, na Universidade de São Paulo. O poeta não andava nada satisfeito com a geração 70, que negava a Geração Madrugada para o Brasil.Desejava algo mais sofisticado, mais esteticamente Amazônico, algo menos sectário. Não aceitava aqueles que ficcionavam a Amazônia com uma forma estranha ao conteúdo, com uma linguagem colonizada.
Em 1988, então, redigi, encantado, o prefácio de seus ensaios sobre a particularidade da linguagem estética da Amazônia. Em 1996, em Fortaleza, o poeta fez uma pequena edição deste livro. Agora, em 2011, 23 anos depois, já octagenário, o poeta reeditou o livro com o antigo prefácio e pela chamada Coleção de Textos Madrugada.
Para mim, foi uma grata surpresa receber na Universidade este tratado ainda insuperável sobre a influência das culturas indígenas na arte urbana das cidades Amazônicas. O contato da minha geração 80/90/2000 com a Geração Madrugada está sintetizada neste livro. Trata de influência e superação, além da gratidão que temos por estes pioneiros.
Quem desejar entender o que há de mais essencial e específico nas linguagens artísticas Amazônicas, a sua pedra-de-toque,deve pedir a obra diretamente ao autor: jorgetufic@hotmail.com
Apenas para sentir o sabor, um parágrafo deste primor:
" Os divisores de águas, quando se enfoca a literatura, ao lugar-comum de estarmos tentando repetir os caminhos da "ideologia Curupira", juntam a pólvora festiva dos neo-colonizadores e filo-portugueses remanescentes da Cabanagem, logo frustando, em nome da xenofobia, as menores aspirações de resgate da identidade amazônica. Isto apesar de conceitos respeitáveis e definitivos, que incluem audácias como o Cobra-Norato entre as obras de congênita expressão da nacionalidade. Exemplo maior do sincretismo de que antes falamos,Cobra Norato, de Raul Boop, apontou a inversão de itinerários que empobrecem e tematizam a região. E a saga bopeana passou, apenas de leve, pelo fascínio do "epos", abeberando-se verticalmente no "logos" da poranduba, mas atingiu a categoria do "mito", que sugere a presença virtual de um código secreto ou de uma linguagem perdida, capaz de reanimar, sempre que necessário, o fôlego sísmico da Cobra grande"

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