sexta-feira, 2 de setembro de 2011

QUANDO AS NOITES VOAVAM

Depois de Amazônia: O Massacre e o Legado, o qual tive a honra de prefaciar, recebo agora do poeta Jorge Tufic o livro Quando as Noites Voavam. Editado pela editora popular, em Fortaleza , Ceará , 2011, este livro é mais uma tentativa do poeta em unir teoria e prática: a teoria Amazônica da literatura e a práxis Amazônica do fazer poético. Em uma e outra, Tufic é inaugural, pioneiro, originalíssimo.
Nos anos 80, quando propôs uma teoria da linguagem poética Amazônica, Tufic recuperou os princípios estéticos da primeira geração modernista brasileira, dita nativista, e organizou suas características expressivas: linguagem indireta, analógica, metáforas enraizadas na flora , na fauna e na expressão mítica,relações causais mágicas, imagens alucinógenas, vocabulário onomatopaíco, entre outras -

" Dai-me o sono Kaxpi, dai-me. Ai, kaxpi, meu sapo cozido, meu pote sonâmbulo, minha canoa tonta, meu rio afogado(...) uma outra vez, dai-me, kaxpi,a visão da maloca, a palha seca umari, meu banquinho feliz, meu trovão de brinquedo(...) Teu vinho de lua, teu visgo doce de flauta, tua boca de arco-íris, fazem ver estes lugares,kaxpi. Ouvir o milho pita, a mucura canhem, a onça, a forquilha. (...) Ainda estamos em viagm, kaxpi, na barriga da cobra ".

Tufic recuperou a linguagem secreta "dos nheengatus" Amazônicos e a estética Boopeana de Cobra Norato, transpondo-as para a invenção poética: novas formas para novos temas. Sua idéia é aproximar a teoria do objeto. Nada de teorias formuladas longe do objeto estético Amazônico e , mesmo assim, "esquartejando Macunaíma a partir de formalismos russos, estruturalismos francêses, estéticas alemãs da recepção(...) e quejandos...". Adorno. Tufic foi leitor de Maiakóvski: "Não há arte revolucionária, sem forma revolucionária" . Digamos assim: Não há arte Amazônica sem forma Amazônica. E estamos conversados.
No prefácio de Amazônia: O Massacre e o Legado, ainda na lira dos meus vinte anos, fiz uma análise discursiva da teoria e da poesia de Jorge Tufic. 25 anos depois , poeta publicou os papéis amarelados pelo tempo. Na época, o poeta era sexagenário- Mais sexy que genário, quer dizer: poeta e pensador.
Agora, quando meu amigo blogueiro Rochinha soprou a brasa viva da memória, fez todos nós pensarmos na falha: Tufic fez 80 anos. Ele fez os anos . Os anos não o fizeram.
Quanto vigor físico, quanto vigor intelectual, quanto vigor poético.
A tradição oral arawak-tukano ( yepá-mashã), poeta, continua navegando na barriga da cobra-canoa transformadora. Por trás do mito, o segredo da linguagem perdida e recuperada. Expressão indigena e indígena-cabocla (caboca): faz sentido para quem conhece o ecossistema da floresta, o ciclo das águas, a fruta da época, a hora da pesca, o momento da caça, a pororoca e a mística nuclear da floresta, teorizada pelo sábio Evandro Carreira.
Mas talvez a floresta capitalizada, Inc. em vez de Inca, não tenha ouvidos nem sensibilidade para sua linguagem. A conexão do humano com o natural ainda não foi recuperada. Talvez o calendário Dessana, medindo o tempo na praia do Tupé, e os rituais dos povos indígenas que voltaram para Manaus, sejam a última chance: 2012 e o calendário Maia das treze luas vaticinou a profecia.

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