sexta-feira, 22 de março de 2013

O NOVO FORMATO DO BLOG E A INTEGRAÇÃO DIGITAL PAN-AMAZÔNICA


Este blog está com um novo formato. E , desde logo, agradeço ao Coletivo Unidade Tubarão, criado pelos meus amigos Marcos e Carol,  pela gentileza de atualizá-lo. 
O novo formato está organizado por país. Uma janela para cada nação. Isto significa que o leitor poderá informar-se sobre a cultura, a arte  e , muito especialmente, sobre a literatura e o teatro da Pan- Região em seus movimentos gerais , mas também sobre a particularidade estética e cultural de cada país. 

Não é simples promover a integração cultural Pan-Amazônica. Ela foi tentada por diversas vias, inclusive com um Tratado de Cooperação Amazônico.Todas fracassaram porque não envolveram a sociedade e seus movimentos sociais.  

O Fórum Social Pan-Amazônico está se constituindo em uma alternativa viável de construir uma unidade de todos os povos da região da grande floresta. 

Suas várias versões trouxeram avanços significativos porque centrados na solidária fraternidade dos trabalhadores , dos povos oprimidos e dos movimentos sócio-culturais. 

Este mesmo movimento construiu as condições para o uso das novas tecnologias tentando  aprofundar a comunicação e a integração cultural. 

Este blog da literatura Pan-Amazônica nasceu dentro deste movimento. Até agora é o único com este projeto de garantir a integração cultural pela via digital, isto é: como parte da inforevolution.

Nossa proposta , neste novo formato, é ampliar nossas relações e incluir os consulados como parceiros do novo momento.

Como parte deste novo momento, é importante pensarmos o que é Pan-Amazônia , o sentido de sua integração e a possibilidade de construirmos uma cultura específica deste novo movimento.

A entrevista que o site da FASE publicou com Letícia Tura, uma de suas diretoras para a Amazônia, logo após  o Fórum Social Pan-Amazônica  de 2010, em Santarém, talvez revele que cultura estamos construindo.  

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O sentido da Pan-Amazônia

03/12/2010 

A diretora da Fase Letícia Tura viveu e militou por anos na Amazônia, apoiando o trabalho de diversos movimentos sociais, associações de trabalhadores e demais grupos organizados que defendem direitos sociais e ambientais e sempre estievram engajados na luta por um outro modelo de desenvolvimento para a região. Com o encerramento de mais essa edição do Fórum Social Pan-Amazônico, a Fase apresenta esta entrevista com algumas de suas reflexões sobre o sentido da Pan-Amazônia, suas implicações sociais e políticas na luta por uma Amazônia viva para todos os povos. 

Como nasceu e o que é o conceito de Pan-Amazônia?
 
A Pan-Amazônia envolve os países que têm a floresta amazônica em seu território. Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, as Guianas e o Suriname, além do Brasil. O movimento social se apropriou desse conceito como sendo um conceito de luta desses povos. Porque a Amazônia não é só uma questão física e geográfica, mas são povos que enfrentam os mesmos problemas de viverem e sobreviverem numa das últimas reservas de floresta tropical úmida no mundo, e também uma das últimas reservas dessa biodiversidade. Os países da Pan-Amazônia sofrem grandes pressões de setores empresariais, uma série de interesses econômicos pelas riquezas materiais do lugar, seja minério, madeira, biodiversidade. A Pan-Amazônia é uma categoria de luta e a construção de uma identidade para a luta.
 
Já se pode falar de uma cultura pan-amazônica? Essa luta está culturalmente enraizada?
 
Isso é algo que vem sendo construído. O Fórum Social Pan-Amazônico começou em 2002, e desde então tem sido construída essa identidade como categoria de luta. Na região, já existiam outras iniciativas, como a Unamaz, uma universidade que reúne centros das várias universidades da região, e que tem uma sede em Belém. Essa noção pan-amazônica já existe há bastante tempo. Mas essa noção de uma identidade de luta vem sendo reforçada a cada fórum social pan-amazônico.
 
Hoje é possível identificar uma unidade nessas lutas, já que são grupos tão distintos com necessidades e interesses diferentes?
 
Vejo que tem uma discussão grande em torno da própria identidade, uma discussão cultural que unifica. Todo Fórum Social Pan-Amazônico, aparece forte a discussão sobre a identidade cultural negra, indígena, da etnia. Mas no sentido de valorizar a diversidade cultural. Um ponto de unidade de todos os movimentos é de que a gente deve fortalecer a diversidade. Isso é unânime. Não se tem a mínima perspectiva de buscar uma identidade única ou alguma identidade que sintetize todas as outras. Uma afirmação permanente do fórum é o reconhecimento e a valorização das diferenças. Sempre há manifestações indígenas, negras, de mulheres, das diferentes regiões e línguas. Uma coisa que também unifica é a discussão sobre terra e território. É uma discussão que tem perpassado todos os fóruns sociais, as diferentes lutas por território e terra, assim como também os ataques que essas populações vêm sofrendo. Tem as discussões que vêm dos Andes que falam sobre estados plurinacionais, a questão do Bem Viver etc. Isso já se encontra com o debate do uso e acesso aos recursos naturais: o direito desses povos de ter garantido seu acesso. A discussão do território traz consigo a necessidade de não cercear o direito dos povos de uso e acesso aos recursos naturais. E assim como à sua preservação. Porque, na verdade, para quem vive da e na floresta, a preservação está muito associada ao uso sustentável que essas populações fazem dos recursos naturais. Eles precisam desses recursos para sobreviver. São indissociáveis, em qualquer discussão na Amazônia, a questão social e ambiental. Dentro disso também tem a discussão do IIRSA, da integração regional, uma outra forma de integrar que não seja apenas em função da estrutura de empreendimentos econômicos e grandes projetos como hidrelétricas, portos e aeroportos, mas uma integração para melhoria da qualidade de vida das populações.
 
Como você vê que essa movimentação pan-amazônica conseguirá dialogar com o mundo, já que a Amazônia é uma questão mundial?
 
Eu acho que essa é uma questão fundamental. No Brasil, a gente tenta falar que a Amazônia é uma questão nacional no sentido de que não pode ser preocupação só dos povos da região. E muito menos deve ser uma preocupação nacional só quando se refere a estrutura, ou seja, só quando se precisa de água, potenciais hídricos para energia, e aí se pensa que a Amazônia é uma questão nacional. Não. Ela deve ser pensada para além disso. E quando se pensa um processo como o do Fórum Social Pan-Amazônico, ele já pensa em dialogar com outros processos no mundo, exatamente para quebrar esse isolamento. Ele quer ser uma iniciativa que se insere num calendário global de manifestações. Já houve o Fórum Social Mundial de Belém, em início de 2009, o que já foi um grande momento de inserção da pauta amazônica no calendário do mundo e de ver o que esses povos da floresta sofrem e produzem de alternativas e conquistas. É um processo cumulativo, e certamente vai ser acumulada uma força para o próximo FSM em Dacar, em 2011.


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