sábado, 7 de agosto de 2010

OS EMPRESÁRIOS DO LIVRO QUERIAM ME MATAR! AGORA QUEREM ME SUBSTITUIR NA LIDERANÇA DO MOVIMENTO CULTURAL! ( UM LUXO)

Ninguém precisa ser escritor,dramaturgo,comunista,pós-graduado em Filosofia,Mestre em Letras, ter lido Marx ou Adorno, como eu, para entender que a dialética da luta de classes está presente em todos os aspectos da vida humana, incluíndo o universo cultural.Sei que poucos criadores leram A Obra de Arte na Época de Sua Reprodutibilidade Técnica, de Walter Benjamim, para entender a diferença entre valor estético e valor de mercado ou valor de troca.Mas isso não dimimui o valor artístico de sua obra, embora o limite.
Não tem jeito: Antes de ser música, literatura, teatro, artes plásticas ou designe, a criação passa pelas categorias estéticas, pelos gêneros unificadores , como o épico, o lírico, o trágico, o cômico, o fantástico, o terror, o terrir ( família Adams)e outros. E não se enganem: cada obra de arte é criada por um grupo social para divulgar seus próprios valores e para seu próprio consumo.Criam seus gêneros, criam suas formas e criam seus estilos.
Na literatura, por exemplo, os nobres escravistas aventureiros gregos criaram a epopéia como forma narrativa de suas viajens. Criaram a epopéia para narrar o gênero épico, expressão mental de suas lutas e conquistas territoriais. Os senhores feudais, especialmente sua face militar, criaram as novelas de cavalaria, mudando do mar para a terra o ambiente das aventuras. O capitalismo criou, com D. Quixote, sua forma narrativa romanesca.O proletariado revolucionário, manteve o romance, transformou o conto e priorizou não as mudanças de formas , mas as mudanças de estilo. Substituiiu o realismo psicologista burguês por quatro realismos dos trabalhadores: realismo proletário (proletcult-Maiakovski- assassinado por Stálin), realismo crítico (Gorki,Jorge Amado, Sean O'Casey), realismo socialista( caricatura stalinista, face grotesca dos trabalhadores)e, o mais criativo, o realismo dos folclores regionais, do qual Gabriela ,Cravo e Canela, de Jorge Amado, é um exemplo universal.Na poesia, substituiu a rima pelo rítmo.A sonoridade externa, na ponta do verso, pela sonoridade interna.
O século XX, dominado pelas estéticas proletárias, presenciou a transformação do debate artístico em competição de mercado. Carente de escritores dispostos a defender a exploração do homem pelo homem, a violência classista, o autoritarismo, o belicismo e falar apenas de desditas amorosas, a burguesia radicalizou: resolveu controlar as obras de arte, especialmente a literatura e a música,através da distribuição e do consumo. Podem criar a vontade, pensou a burguesia, mas para vocês mesmos consumirem. Para chegar ao grande público, a obra terá o filtro burguês da produção, da divulgação e do consumo na indústria cultural.
Nos anos 90 do século XX, o chamado neoliberalismo atualizou esta estratégia burguesa e criou o lema Cultura é um bom negócio! Foi a senha. Com o fim da história, de Fukuyama, eles queriam também o fim da estética, o fim dos gêneros, o fim dos estilos e o fim da liberdade de criação artística. O filtro ideológico da arte passou a ser seu valor de troca, seu valor de mercado, e para isso o autor teria que combinar baixo nível estético, água com açucar, auto-ajuda, falsa alegria, padronização e bom mocismo. Mais ou menos como o Pe. Fábio de Melo ou Ivete Sangalo!
Em 1990, nos confins do mundo, em plena bacia Amazônica, um movimento de 28 entidades artísticas resolveu explicitar a diferença e o antagonismo entre indústria cultural e diversidade cultural. Encaixou na Constituição do Amazonas um artigo, 203, que propunha um sistema estadual de fundos de cultura, conselhos gestores paritários, conferências e planos decenais.Isto seria um forma política de defender a diversidade cultural da voracidade do mercado em privatizar as verbas públicas da cultura e controlar a criação através da economia.
Em 2003,o governo Lula, através do ministro Gil, de Sérgio Mamberti, do finado escritor Wally Salomão e do atual ministro Juca Ferreira, recebeu uma carta destas 28 entidades propondo o mesmo para o país.Gil encaminhou para Lula que ,imediatamente, instituiu o sistema por medida provisória e abriu o debate em duas conferências nacionais.Na última, em março de 2010,delegados de mais de 1500 cidades, incluíndo o autor destas linhas como delegado de Manaus e do Amazonas,aprovaram apoio a PEC 416, que cria o sistema nacional de fundos de cultura, conselhos gestores, planos decenais e conferências bianuais.Além disso, resolveram direcionar a maior parte das verbas públicas para a diversidade cultural e não para o mercado, que deve viver da lei da oferta e da procura.Xeque - Mate?
Que nada! O mercado é um camaleão muito do seu viciado em verbas públicas e já procura se adaptar 'a nova conjuntura!
Em todo o país, os representantes do mercado viciado procuram viabilizar suas presenças nos conselhos de cultura e nos movimentos culturais. Assim, legitimam sua velha estratégia de fortalecer o mercado e enfraquecer as organizações dos trabalhadores da cultura e da diversidade cultural.
No Amazonas, onde tudo começou, os maiores inimigos da diversiade cultural foram os editores , organizados pelos cangaceiros da Editora Valer. Quando eu estava na presidência do Sindicato dos Escritores, um dos donos da Valer, o cangaceiro Isaac, quis cuidar da minha morte física, dentro de uma padaria, enquanto o outro dono, o cangaceiro Tenório, cuidava da minha morte espiritual, pagando jornalistas para censurarem minha obra e minhas atividades culturais.
Agora, como camaleões cínicos, perdem a concorrência para a livraria Saraiva e veêm no movimento cultural (de novo!) um ótima oportunidade de negócios!Para isso, além do marketing cultural FOFA, que massifica a marca e destrói concorrentes,estão dispostos a apagar da memória do Amazonas o conteúdo do livro Artistas de Março- Um Movimento Artístico na Amazônia , de minha autoria. Agora, como não conseguiram me matar, querem cooptar o movimento autônomo das entidades e dos trabalhadors da arte para seus projetos patronais. É como se a federação das indústria resolvesse assumir a direção dos sindicatos dos trabalhadores!
Eu não presto,mereço a morte, mas o movimento que eu criei, nas mãos deles, pode ser uma ótima oportunidade de negócios!
As entidades artísticas sabem que do orçamento estadual da cultura de 100 milhões, apenas 0,8%, 800 mil , são investidos em editais públicos para as artes. O resto, tirando as verbas de manutenção de teatros, museus e bilbiotecas, o resto é deles...
Não sou dono de nenhum movimento. Sou apenas fundador. Quem quiser continuar minha obra, saiba que ainda estão rolando os dados...

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