domingo, 17 de junho de 2012

MANAUS INC. - CONTOS AMAZÔNICOS NA DESGLOBALIZAÇÃO ( EBOOK - EM BREVE MEUS 26 CONTOS )


                                         ( CAPA : THIAGO MITTOSO )
                                                  


                                             NOTA DO AUTOR
                              
                (QUANDO A REALIDADE ULTRAPASSA A FICÇÃO)

O poeta Jorge Tufic, no livro Existe uma literatura amazonense? , parece que revelou o segredo: O que se pode chamar de Amazônico, em literatura, não é o conteúdo, em seu aspecto de tematização da Amazônia. A literatura narrativa, seja no romantismo, seja no naturalismo, seja no realismo, apenas tematizou a realidade sócio-natural da Amazônia. Mas suas formas ( romance, conto, novela), suas linguagens (documental e cientificista) , sua sintaxe ( do português ibérico )  e seus gêneros (trágico e épico) são de matriz européia.
Ainda segundo o poeta, foi a primeira geração modernista (1922-1930)  que introduziu a particularidade literária da Amazônia na literatura brasileira. Tendo como influência a literatura oral dos povos indígenas da Amazônia, recolhida pelo poeta e naturalista Brandão de Amorim,  autores modernistas como Mário de Andrade e Raul Boop, criaram obras como Macunaíma e Cobra Norato. As formas (lendas, fábulas, contos ), a linguagem (poética, metafórica, simbólica, mágica, alegórica) , a sintaxe (  tupinização  do português, com o verbo no final, por exemplo) e os gêneros ( o cômico, o maravilhoso, o fantástico, o sobrenatural) passaram também a ser Amazônicos, junto com o conteúdo, incluíndo a temática e a visão mítica do mundo.
Em seu último livro, Quando as noites voavam, o poeta defende a tese que não há realismo no fantástico  amazônico: o fantástico é a própria realidade.
No livro Manaus Inc. - Contos Amazônicos na Desglobalização, meu terceiro livro de contos, eu inverto e pratico a tese do poeta. Para mim, não há fantástico no realismo Amazônico. A realidade é o próprio fantástico. Assim: para Tufic, o fantástico é real. Para mim, o real é fantástico.
Na verdade, o poeta confunde o fantástico com o maravilhoso ou o mágico dos contos de fada ou do lendário Amazônico. Em teoria literária, estes conceitos não representam  a mesma realidade textual. O fantástico gera a dúvida: isto aconteceu ou não? Isto é real ou irreal ? O mágico ou o maravilhoso não contém esta dúvida: a relação do real com o irreal é  aceita como real. O Lobo Mau fala, animais assumem características humanas e vice-versa como algo real, como algo sem o qual a narrativa não será entendida.
Isto na floresta, basicamente. Quando buscamos isto na vida urbana entramos no campo do absurdo.
E este "realismo absurdo", por vezes mágico, por vezes fantástico, é exatamente o estilo ou o gênero , dependendo do ângulo, que surge quando a realidade ultrapassa a ficção.
 E é a partir deste ângulo estético que se estruturam os contos do livro MANAUS INC. - CONTOS AMAZÔNICOS NA DESGLOBALIZAÇÃO. Fácil: uma globalização absurda da Amazônia, seja  do capital financeiro, seja das grandes corporações,  gerou um conteúdo  (temática e visão de mundo pós-globalização,desglobalizante, conectada com os movimentos de recuperação das identidades continentais na África, na Ásia e na América Latina) .  Mais: gerou um novo gênero-estilo ( o realismo absurdo ) . Mais: gerou uma nova forma ( mistura de conto e fábula urbana) . Mais: gerou uma nova linguagem ( descolonizada,poética, brutal, grotesca, cômica e veloz). Mais: gerou uma sintaxe ( a fala coloquial das populações indígenas-cabocas urbanas globalizadas e em desglobalização).
Esta é a originalidade estética de Manaus Inc. - Contos Amazônicos na desglobalização.  
É uma pequena trilogia dividida em Contos de Manaus, Contos do Boulevard Amazonas e Contos do Tarumã.
Se o leitor vai gostar não é a questão. Para a estética, o que importa, como definiu Oscar Niemeyer, é saber se o leitor já leu algo igual. 

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