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APRESENTAÇÃO DO EBOOK DE CONTOS MANAUS INC. - CONTOS AMAZÔNICOS NA DESGLOBALIZAÇÃO,
DE JOSÉ RIBAMAR MITOSO
POR JORGE TUFIC
, A SAGA MUNDURUCU
Recortes de momentos
decisivos em cada etapa de seu pensamento amazônico, ladeado pela vida urbana
de Manaus e o espaço defectivo de seus arredores bucólicos, o autor deste livro sabe que ainda pisa,
frequentemente, nas reminiscências de uma gleba abençoada pelas
Idas e vindas de centenas de
tribos nômades, cuja sabença e valentia resistem na tradição dos índios
Mundurucus, dentre várias etnias ainda hoje visíveis em certos aglomerados de
estrelas, como a fixarem para sempre a geografia de tantos massacres e poucas
vitórias.
Entretanto, são contos diferentes
estes, mas bem ao gosto do linguajar baré que torna saboroso o idioma português
falado nos trópicos, caracterizando, portanto, um modo paralelo de levar os
assuntos que nos atormentam ao jeito sacânico de Macunaíma, sob os olhares atentos do inconfundível Bahira: embora a
distância dos rios e das matas demarquem os seus domínios, até então sagrados e
protegidos.
Aproveita-se, contudo, deste gênero
narrativo para expor as vísceras de uma realidade que, há séculos, marginaliza
o índio, como se nada tivesse ele a nos dizer senão que tem sua origem no
Setestrelo, ou naquela estrela que o gotejou, isto apesar de ser dono (ou
ex-dono) de uma farmácia natural imensamente rica, e de um lendário que
assustava, e ainda assusta, aos mais competentes cientistas do mundo inteiro. A
seu lado, anexando o lixo da cidade ao nível da pobreza e do abandono, segue o
enigmático caboclo, último estágio da miscigenação gestada pelos arrogantes
colonos, descendentes de Favela e Frei José dos Inocentes.
Segundo Carlos Augusto Viana, se
(antes) o conto se caracterizava por ser uma narrativa de ficção, sedimentado
num só conflito, com redução de tempo, espaço e personagens, passou, desde
então, a reduzir-se também a simples captação de um momento, aproximando-se,
assim, de uma nítida fotografia. É a ideia, não totalmente exata, que nos
transmitem as estórias de José Ribamar Mitoso, a exemplo de ¨A morte de
Piropo¨, na parte intitulada de ¨Contos do Tarumã¨. Outros, semelhantes ou
idênticos, achamos em ¨O poeta vai a Maués¨, ¨Carta de amor e malária¨, ¨ Saga Mundurucu¨, e nesse exemplar ¨Cena 4:
conto para teatro¨, estando,os demais, quer na temática, quer na linguagem, neste
mesmo nível de austeridade crítica, ironia demolidora e afeto por onde passa o
diálogo construtivo e a solidariedade humana.
São contos de mestre. Num só jamachi
se aquietam, finalmente, mundurucus, barés, cariuas, mestiços, fulanos e sicranos:
a mistura é dialética, mas o nativo é o único que sabe tudo do colonizador,
enquanto este ainda não sabe nem entende, sequer, a diferença entre um cu
branco e um cu preto.
Jorge Tufic
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