Quem somos nós, escritores, para meter o ético no estético e definir o que é certo ou errado em arte?
A arte , aliás, existe para que o que há de certo ou errado em filosofia,em ciência, em religião, no senso comum e no mito não limite a capacidade criativa e a expressão humana.
Um filósofo não pode afirmar que o conhecimento não é produto da relação do homem com o universo-mundo-natureza. É errado. Um cientista não pode afirmar que a água não ferve a 60 graus. É experimentalmente incorreto. Um religioso não pode negar a existência de Deus. É contraditório.O empírico não pode negar o papel da experiência em seu limitado conhecimento. A experiência sem método é sua fonte de saber. Ele não pode negar que a vida cria exemplos práticos que são transformados em sabedoria popular. A consciência mítica não pode negar as forças elementares sobrenaturais. Negaria a si própria.
Porém, um artista, a arte, pode abrir mão de toda certeza confirmada pelos outros saberes e criar uma obra. Para que ela serve não está ao alcance da platéia julgar. Mas a arte, mesmo a hiperrealista, mesmo a abstrata, não existe a não ser para que o ser humano tenha uma faceta da sua capacidade cerebral usada.: expressar-se sem se preocupar com o certo e o errado é uma dimensão neurológica e cognitiva da existência. É uma dimensão humana: a artística.
Portanto, ninguém pode dizer o que é certo ou errado em arte.E o mais absurdo de tudo isso, um paroxismo, é que o ser humano criou esta forma de expressão exatamente para dizer o que é certo e errado nas coisas.Melhor: para formular a critica mais radical contra tudo aquilo que diminui o ser humano, que o oprime, que o escraviza, que o controla: salve subcontrolador-geral! O Estado contra o cidadão. Crime contra os direitos humanos. Censura nunca mais. Fuleragem! A filosofia explica. A ciência prova. A religião, o mito e o senso comum sagram. A arte mostra. Isto é o que é da arte e do artista: o resto é do outros!
Ou o contrário: a arte, para permanecer sendo o que é, já passou por múltiplas transformações.Mudou de gênero, de forma, de linguagem, de estilo, de estrutura e de profundidade. Tudo para poder mostrar e mostrar-se!
Na era da civilização urbano-industrial capitalista, o mercado introduziu na arte sua dimensão de mercadoria ,de produto, de fetiche. A literatura, que é a forma artística que nos interessa neste momento, também virou mercadoria, tomate, manteiga, cerveja, na era da indústria cultural capitalista. Entrou no processo de produção, distribuição e consumo. Virou peça de outdoor!
Explicando melhor, porém: o livro e não a literatura. A literatura independe de sua forma livresca. Independe inclusive do mercado editorial: existe o circuito da internet, da rede pública de ensino, da universidade, das ruas (salve os fanzines e os cordéis), dos bares e tanto mais!
A distribuição do lucro do produto livro não interessa a literatura. Ela é mais interessante para os gerentes de negócios das editoras e livrarias, alguns deles travestidos de escritores: 50% para a editora, 40% para as livrarias e 10% para o autor,quer dizer: para a literatura!
Nesta primeira Bienal de mercado no Amazonas, o esquema foi assim: um empresa de fora vendeu o pacote para vários Estados brasileiros. O Estado entra com a infraestrutura e com algum dinheiro, sem licitação. A empresa ganha mais ainda vendendo espaços para as editoras e ingressos para alguns eventos.
As editoras divulgam com agressividade mercadológica o feio rosto de seus autores-produtos e, depois, é só esperar que os consumidores comprerm a literatura escapista, autorizada, a-crítica! O marketing já provou sua maligna eficiência hipnótica.
Nada ilegal! Tudo dentro da estratégia empresarial científica, dentro de um país capitalista: Brasil!
Nada destas questões de mercado, porém, interessam a literatura. Em nenhum momento aquilo que é literário, propriamente dito, fará parte do esquema.
Não haverá debate artístico. Ninguém pautou o debate sobre estilos literários, literatura. Realismo psicologista, realismo proletário, realismo fantástico, realismo crítico, realismo dos folclores regionais, realismo socialista, escapismo, auto ajuda, e tanto mais. Quem debaterá isso: analfabetos do mercado com suas viseiras de agregação de valor e lucro?
Mas quem somos nós, escritores rebeldes da sociedade civil, para dizer o que é certo ou errado na lógica do mercado editorial?
Se queremos existir assim, como escritores que não virararam bibelôs do mercado, por que não aceitamos os embustes marqueteitos na democracia? Temos que conviver com eles. Não podemos repetir a formula excludentes desta gente.
Quem somos nós, escritores livres da mais-vaia sobre o objeto artístico, para dizer o que é certo ou errado em arte?
Esta não é uma tarefa dos escritores, dos artistas. Esta é uma tarefa da literatura, da arte.
Desculpem-me!
Ou o contrário:
ótimo site, penso apenas que poderia criar um twitter e facebook desta página para melhor divulgação.
ResponderExcluirObrigado pela sugestão, querido!
ResponderExcluirEsse Zémaria Pinto é muito cara de pau. É o matémático gerente da ordem, submisso ao poder e ao metcado munipal, e , ao me ler escrever sobre arte e liberdade, vem propor a estética da não submissão as regras e aos modelos. Um submisso propor a não-submissão? crise de identidade , mano!
ResponderExcluirpode crer, garoto!! um abração e vida longa a POLIENAL e aos que não se vendem ao mercado!!
ResponderExcluiro encontro de sexta foi do caralho!
Já enviei uma mensagem pro Tubarão e sua companheira. Nesta sexta feira discutiremos a ideia do site.
ResponderExcluirUm abraço e até lá!!