quarta-feira, 8 de agosto de 2012

JORGE TUFIC , A GERAÇÃO MADRUGADA E MINHA LITERATURA REALISTA -CÔMICO - ABSURDA - FANTÁSTICA



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APRESENTAÇÃO DO EBOOK DE  CONTOS MANAUS INC. - CONTOS AMAZÔNICOS NA DESGLOBALIZAÇÃO,
DE JOSÉ RIBAMAR MITOSO
POR JORGE TUFIC

       ,                                                 A SAGA MUNDURUCU

           Recortes de momentos decisivos em cada etapa de seu pensamento amazônico, ladeado pela vida urbana de Manaus e o espaço defectivo de seus arredores bucólicos,  o autor deste livro sabe que ainda pisa, frequentemente, nas reminiscências de uma gleba abençoada pelas
Idas e vindas de centenas de tribos nômades, cuja sabença e valentia resistem na tradição dos índios Mundurucus, dentre várias etnias ainda hoje visíveis em certos aglomerados de estrelas, como a fixarem para sempre a geografia de tantos massacres e poucas vitórias.
          Entretanto, são contos diferentes estes, mas bem ao gosto do linguajar baré que torna saboroso o idioma português falado nos trópicos, caracterizando, portanto, um modo paralelo de levar os assuntos que nos atormentam ao jeito sacânico de Macunaíma, sob os olhares   atentos do inconfundível Bahira: embora a distância dos rios e das matas demarquem os seus domínios, até então sagrados e protegidos.
           Aproveita-se, contudo, deste gênero narrativo para expor as vísceras de uma realidade que, há séculos, marginaliza o índio, como se nada tivesse ele a nos dizer senão que tem sua origem no Setestrelo, ou naquela estrela que o gotejou, isto apesar de ser dono (ou ex-dono) de uma farmácia natural imensamente rica, e de um lendário que assustava, e ainda assusta, aos mais competentes cientistas do mundo inteiro. A seu lado, anexando o lixo da cidade ao nível da pobreza e do abandono, segue o enigmático caboclo, último estágio da miscigenação gestada pelos arrogantes colonos, descendentes de Favela e Frei José dos Inocentes.
        Segundo Carlos Augusto Viana, se (antes) o conto se caracterizava por ser uma narrativa de ficção, sedimentado num só conflito, com redução de tempo, espaço e personagens, passou, desde então, a reduzir-se também a simples captação de um momento, aproximando-se, assim, de uma nítida fotografia. É a ideia, não totalmente exata, que nos transmitem as estórias de José Ribamar Mitoso, a exemplo de ¨A morte de Piropo¨, na parte intitulada de ¨Contos do Tarumã¨. Outros, semelhantes ou idênticos, achamos em ¨O poeta vai a Maués¨, ¨Carta de amor e malária¨,  ¨ Saga Mundurucu¨, e nesse exemplar ¨Cena 4: conto para teatro¨, estando,os demais, quer na temática, quer na linguagem, neste mesmo nível de austeridade crítica, ironia demolidora e afeto por onde passa o diálogo construtivo e a solidariedade humana.
         São contos de mestre. Num só jamachi se aquietam, finalmente, mundurucus, barés, cariuas, mestiços, fulanos e sicranos: a mistura é dialética, mas o nativo é o único que sabe tudo do colonizador, enquanto este ainda não sabe nem entende, sequer, a diferença entre um cu branco e um cu preto.

Jorge Tufic

      

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